A seguinte mensagem é a sexta comunicação da série Perguntas Frequentes
em Bioestatística, da autoria de membros do Laboratório de Bioestatística e
Informática Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Pretende-se
fomentar uma discussão sobre as melhores práticas estatísticas na área da
saúde.
Perguntas frequentes em
bioestatística #6. Como comunicar resultados científicos?
Francisco Caramelo e Miguel Patrício
Resumo: Na presente comunicação é apresentada
uma forma de comunicar por escrito resultados científicos. Esta reflexão, disponibilizada
publicamente, foi escrita a pensar de forma particular nos alunos da Faculdade
de Medicina da Universidade de Coimbra. Pretende-se partilhar algumas regras
práticas que permitam escrever textos científicos de elevada qualidade. É
descrita a pertinência de cada secção de um tal texto, bem como o conteúdo que
as mesmas devem conter. Também é dado destaque à articulação entre as diferentes
partes do texto para que este se apresente completo, com lógica e coerência
interna. Esta comunicação resulta essencialmente da experiência dos seus
autores e, por essa razão, apresenta uma visão necessariamente subjetiva. Formas
alternativas de escrita podem ser igualmente válidas, sobretudo se conseguirem
realizar o seu único propósito: transmitir objetivamente informação.
Introdução: Têm sido constatadas dificuldades da
parte dos alunos na escrita de relatórios académicos e artigos científicos. Os
aspetos a melhorar detetados vão desde a apresentação visual de baixa qualidade
e pouco cuidada, à divisão pouco funcional por diferentes secções, à sintaxe, à
apresentação de resultados e à sua discussão e conclusão. São frequentemente
apresentados textos que não cumprem a sua função, a qual devia ser informar o
leitor de forma objetiva e concisa. O presente trabalho pretende contribuir
para colmatar esta lacuna.
Hoje em dia, aos profissionais das mais diversas áreas é-lhes exigido não
só trabalho de qualidade mas também capacidade de comunicação dos seus
resultados. Este último aspeto, nalguns contextos, tende a ser descurado em
detrimento do primeiro, havendo um foco quase exclusivo no conteúdo e menor
atenção à forma. Sendo os dois aspetos indissociáveis, a forma como se apresentam
resultados determina a capacidade de transmitir eficientemente informação,
podendo e devendo ser trabalhada.
Em termos de estrutura formal, é usual dividir um texto científico em
resumo, introdução, métodos, resultados, discussão e conclusão, como se
discutirá em baixo. A secção de introdução de um relatório ou artigo científico
serve fundamentalmente três objetivos: descrever o problema, a motivação
subjacente e o contexto em que se insere. Para que a comunicação, na
introdução, seja feita eficientemente deve ter-se sempre em consideração dois
fatores essenciais, a saber: o quê e a quem.
O primeiro fator é desde logo a mensagem em si mesma, isto é, o que
queremos transmitir. É crucial que saibamos exatamente o que se quer contar e,
também de suprema importância, o que não se quer contar. Definir os aspetos a
comunicar é um exercício muito difícil de realizar e ao qual geralmente
dedicamos pouco tempo. Afastar os aspetos desinteressantes do nosso trabalho e
focarmos-nos apenas nos aspetos realmente fulcrais é trabalhoso mas garante
bons resultados. Não raras vezes nos textos que lemos transparece que para o
autor tudo é importante e quando assim é, o resultado é exatamente o oposto:
nada é fundamental, nada se destaca. É como se fosse um quadro homogéneo apenas
a uma cor - desinteressante! No caso de um texto é ainda mais dramático porque
não se percebe a história que o autor quer contar e tudo fica muito confuso.
Para se conseguir contar essa história num relatório, começar por resumir todo
o trabalho numa única frase é imperioso. É esta frase (ideia) que deve iniciar
tanto a introdução como o resumo do relatório.
O segundo fator, a ter em particular consideração na escrita da introdução,
consiste em saber de antemão qual é o público alvo, poupando-nos a erros
dispensáveis. Geralmente, tendemos a assumir que os nossos leitores conhecem o
assunto que estamos a explanar e por isso usamos uma linguagem restritiva, sem
o cuidado de definir certos termos. Tipicamente, quem lê não conhece o nosso
trabalho, pelo que devemos apresentar o mínimo de conhecimento para que o texto
seja auto-suficiente. Não se deve cair no exagero de explicar todos os detalhes
(senão comete-se o erro de pintar o quadro desinteressante), mas somente
aqueles que garantam que um leitor com conhecimentos médios consiga entender o
trabalho. Uma boa regra prática é pedir a alguém que não é da área para ler e
resumir o texto. Se não tiver entendido o que escrevemos é porque precisamos
trabalhar melhor a escrita.
A apresentação de um relatório ou artigo é a primeira impressão que se
deixa sobre o trabalho que se quer apresentar. Não há duas oportunidades de
causar uma boa primeira impressão. Nesse sentido, a introdução deve valorizar
(de forma justa) o trabalho realizado, permitindo ao leitor perceber a sua mais
valia. Poderá ser útil lembrar uma das fórmulas utilizadas no mundo empresarial
para dar a conhecer, em apenas dois minutos, um novo produto numa apresentação
oral: for; who; the; is; that;
unlike; our:
- for - para quem? Qual o cliente alvo?
- who - Qual a necessidade ou oportunidade?
- the - como se chama o produto?
- is - qual a categoria do produto?
- that - qual o benefício chave trazido pelo produto?
- unlike - Como se compara com o produto mais competitivo já existente no mercado?
- our - Qual a característica diferenciadora do produto que se apresenta?
Esta fórmula foi proposta por Geoffrey Moore [1] e tem sido adotada
frequentemente. Para além de ser uma forma de comunicação com sucesso, a sua
adaptação para um produto concreto constitui um exercício exigente de
conhecimento do mesmo. Como vimos discutindo, a introdução deverá ter como
fundo as duas questões essenciais, o quê e a quem, podendo seguir uma linha
argumentativa análoga à da fórmula de Moore, eventualmente com as devidas
adaptações.
Para além do que foi referido, há que ter em conta que a introdução é o
texto pivô, que estabelece ligações com a literatura e o trabalho que se
realizou, bem como entre as várias secções do relatório ou artigo. Tipicamente,
um tal texto encontra-se dividido em 5 ou 6 secções, cada uma com um objetivo
bem definido.
Na Introdução, além de se descrever o trabalho e a sua motivação, é
necessário dar a informação necessária ao leitor para que ele possa aferir da
pertinência do que expomos. Nesta secção descrevem-se as outras tentativas
descritas na literatura de solução do nosso problema ou de problemas afins. A
maior parte das referências são tipicamente colocadas nesta secção. Em
problemas que envolvam várias matérias distintas, a introdução poderá estar
organizada em subsecções, cada uma dedicada a cada tema específico. O princípio
geral será sempre ajudar o leitor na organização das suas próprias ideias.
A Introdução também serve de preparação do leitor para a arquitetura que
vai encontrar no texto que se segue. Geralmente, opta-se por usar o último
parágrafo da Introdução para identificar as secções em que se encontra dividido
o trabalho enfatizando as que consideramos mais importantes. Recordamos que
tipicamente, as secções de um relatório ou artigo são, para além da introdução,
métodos, resultados, discussão e conclusão. No fim, deverão incluir-se ainda as
referências.
A preceder a Introdução encontra-se o Resumo (em inglês, Abstract), o qual pretende ser uma
resenha de todo o trabalho, pelo que é frequentemente construído com uma
estrutura interna semelhante à do relatório. Isto é, o resumo encontra-se
também dividido em introdução, métodos, resultados e conclusões. Geralmente,
dedica-se apenas uma frase a cada parte. Uma prática muito utilizada é escrever
o resumo no fim de todo o trabalho estar escrito, uma vez que resulta então
evidente quais são os aspetos chave que devem figurar.
No texto que se segue da presente comunicação, explica-se com o detalhe
necessário as funções das secções de métodos, resultados, discussão e
conclusão. Em cada uma destas partes indicam-se alternativas viáveis para a sua
escrita e tenta-se avisar o leitor de alguns erros que se devem evitar.
Métodos: A secção de Métodos de um relatório ou
artigo (ou Materiais e Métodos) serve para reportar os passos que demos para
executar o nosso trabalho, relatando as opções que tomámos. A ideia subjacente
nesta secção é fornecer o detalhe suficiente para que o leitor possa repetir o
nosso trabalho, dado que a reprodutibilidade é um dos pilares da ciência. Devem
evitar-se, nesta secção, duas tentações fortes: mostrar os resultados do
trabalho efetuado e explicar por que razão se procedeu de uma determinada
forma. Na secção de Métodos pretende-se apenas explicar o que foi feito e como
foi feito. Tudo o mais fica para as restantes secções.
A estrutura lógica de um relatório ou artigo científico dita que primeiro
se apresente a relevância do trabalho (Introdução), depois se indique como o
mesmo foi realizado (Métodos), após isto que se mostrem os resultados obtidos
(Resultados) e, finalmente, que se discutam e enquadrem os resultados
(Discussão). As secções de Métodos, Resultados e Discussão deverão, assim,
focar as diversas componentes do trabalho pela mesma ordem.
a) Esquemas, tabelas e gráficos
O uso de esquemas na secção de métodos é comum e é um ótimo recurso se o
mesmo beneficiar a compreensão do trabalho. No entanto, esquemas confusos e com
uma deficiente articulação com o texto criam confusão desnecessária, além de
ocupar espaço inutilmente. Antes de se introduzir uma figura ou tabela num
relatório, deve pensar-se cuidadosamente se o mesmo é imprescindível e se ajuda
à melhor compreensão. Exemplificando, um esquema que pode ser útil incluir é um
fluxograma, seja para descrever um processo de medida seja para explicar um
algoritmo. É de facto preferível recorrer a um fluxograma do que apresentar um
código completo, cujo detalhe é na maioria das vezes prescindível. Os
cronogramas são outro tipo de esquemas bastante eficazes na explicação de
processos complexos (e.g., processos laboratoriais com passos paralelos mas com
interligação entre eles).
O uso de tabelas e gráficos na secção de métodos é pouco frequente mas
existem situações em que se torna necessário recorrer a estes instrumentos. Os
gráficos devem procurar comprimir informação mantendo-se, no entanto, simples.
Gráficos com demasiados elementos devem ser evitados, sendo preferível decompor
em gráficos mais simples. O tipo de gráfico a utilizar deve ser adequado ao
tipo de variáveis e, sobretudo, ao objetivo específico do mesmo. Gráficos com
uma grande variedade de cores e tipos de linha tendem a tornar-se confusos,
pelo que se aconselha parcimónia na escolha dos tipos de elementos. Os
elementos do gráfico devem ser igualmente simples e cuidados procurando-se
enfatizar, através da cor, da forma ou de outra característica, os pontos mais
importantes. Alguns cuidados básicos derivam diretamente do senso comum. Por
exemplo, se um gráfico de barras (e.g., criminalidade violenta por cidade) é
usado para dar uma ideia de medida do crime, colocar as cidades por ordem
ascendente ou descendente de crime terá certamente impacto visual e ajudará o
leitor. Se o que se pretende é comparar a distribuição por classes de uma
variável em dois grupos distintos (e.g., preços de casas vendidas por duas
imobiliárias), um histograma poderá ajudar mas um polígono de frequências
relativas permitirá sobrepor curvas, o que melhorará a interpretação.
Relativamente às tabelas, os mesmos cuidados devem ser tidos, procurando
formas minimalistas de apresentação sem ferir o sentido de completude. Uma vez
mais, técnicas simples de ordenação ou sombreado podem melhorar e ajudar a
transmitir a mensagem que se pretende.
Todos estes elementos devem ser sempre legendados, havendo relativamente ao
tipo de legenda duas opiniões distintas. Por um lado, há quem preconize que o
conjunto figura e legenda devem ser auto-suficientes e, por outro, quem defenda
que a legenda deva ser curta, dando apenas um indicação mínima. No primeiro
caso, as legendas tendem a ser longas mas o leitor pode fazer interpretações
mais profundas sem necessidade de recorrer ao texto. Existe uma tendência a
haver redundância entre o texto e a legenda. No segundo caso, o leitor tem de
recorrer ao texto para perceber bem a figura, mas evita-se a redundância e as
legendas longas. Independentemente de se optar por legendas curtas ou longas, é
fundamental que haja articulação entre texto e figura ou tabela. Estas devem
ser referenciadas no texto, para que o leitor saiba quando deve interromper a
leitura para analisar a informação gráfica ou tabelada. A notação deve ser
coerente: não pode haver símbolos em figuras ou tabelas que não tenham sido
definidos no texto.
b) Equações
Sempre que seja necessário recorrer ao uso de equações devemos optar por um
editor apropriado e, acima de tudo, cuidar da sua correção científica. Todas as
equações devem ser numeradas e referenciadas no texto pelo número correspondente.
Todos os símbolos referidos na equação devem ser explicados no texto.
Resultados: A secção de Resultados tende a ser parca
em texto. Apresentam-se os resultados segundo a organização estabelecida na
secção de métodos, usando algumas frases simples de ligação e de
contextualização. Por vezes, chama-se a atenção do leitor para aspetos
particulares dos resultados que serão retomados na discussão. O uso desta
técnica de repetição de determinados elementos permite que eles ganhem
naturalmente importância.
a) Equemas,
tabelas e gráficos
As figuras, tabelas e esquemas apresentados devem ser originais e nunca
devem ser copiados de outra publicações sem a autorização expressa dos
detentores do direito sobre essas representações. Sobre um dado tema existem, por
vezes, esquemas realmente bons que exprimem a ideia que queremos transmitir e
que, por isso, somos tentados a usar diretamente. Contudo esta é uma prática
reprovável não só no campo ético mas também no jurídico. Por conseguinte, ao
invés de usar a imagem ou esquema devemos substituí-la por outra da nossa
autoria (ainda que seja inspirada naquela) referindo sempre a original. Poderá
ainda pedir-se autorização ao autor da imagem para a mesma ser reproduzida,
tendo-se então a obrigação de a citar e de agradecer ao autor a cortesia
demonstrada. O mesmo cuidado deve ser colocado no texto escrito. Este terá de
ser original. Podemos e devemos citar a literatura, mas usando as nossas
próprias palavras e indicando referências.
Apresentamos de seguida alguns exemplos de esquemas, tabelas e gráficos.
Optámos na presente comunicação por utilizar legendas de figuras mais
completas. Embora haja bons argumentos para o uso de legendas curtas, uma
explicação alongada do conteúdo das figuras permite por vezes ao leitor uma
percepção mais rápida e direcionada dos conteúdos do trabalho.
Como referimos antes, deverá sempre fazer-se uma ligação entre um texto e
uma figura ou tabela. A Figura 1, que incluimos como exemplo, ilustra um
processo genérico de investigação com três fases distintas: fase de desenho,
fase experimental e análise dos resultados.
Figura 1. Esquema genérico relativo ao processo de
investigação. O processo inicia-se com a definição rigorosa da questão de
investigação. A definição da população e da medida principal são os percursores
de toda a fase de desenho, onde é determinado todo o planeamento. A recolha de
dados segue o plano anterior e a análise dos mesmos permite responder à questão
inicial.
Incluimos também como exemplo uma tabela simples. Note-se que enquanto as
legendas das figuras são colocadas após as mesmas, no caso das tabelas é usual
colocar a legenda em cima. Procedemos desta forma com a Tabela 1, que contém o
número de casas vendidas, por intervalo de preços, por duas imobiliárias
diferentes: X e Y. São consideradas 10 classes (intervalos de preços)
distintas.
Tabela 1. Número de casas vendidas para duas
imobiliárias, X e Y, a operar no mercado de Coimbra.
A informação colocada numa tabela tem a vantagem de ser exacta, permitindo
ao leitor a comparação entre números. Os dados apresentados na Tabela 1 podem ainda
ser representados de forma gráfica, como na Figura 2.
Figura 2. Polígono de frequências absolutas relativo
ao número de casas vendidas, em 2012, por duas imobiliárias a operar no mercado
de Coimbra. A azul (traço cheio) encontram-se os resultados da imobiliária X e
a vermelho (tracejado) representam-se os resultados da imobiliária Y. Os preços
das casas encontram-se em milhares de euros.
Note-se que no caso presente, incluir no mesmo trabalho a Tabela 1 e a
Figura 2 é redundante, pois transmitem a mesma informação. Num texto científico
esta é uma das situações a evitar.
É usual fazer um comentário aos resultados apresentados, sublinhando
textualmente o que de mais relevante se pode retirar de uma figura ou tabela.
No caso da Figura 2, uma inspeção visual permite verificar-se que os perfis e
número de vendas das imobiliárias são distintos, tendo mais sucesso a
imobiliária Y, que consegue vender mais casas caras que a imobiliária X.
b) Equações
Como referido anteriormente, a introdução de equações deverá ser feita de
forma complementar com o texto. Exemplificando para o volume de vendas das
casas, este é dado aproximadamente por:
(1)
As equações deverão ser numeradas, referidas no texto e a notação contida
nas mesmas explicada. No caso da equação (1), pi
representa o preço médio de uma casa da classe i e ni
o número
de casas vendidas nessa classe, considerando as 10 classes explicitadas na
Tabela 1.
Discussão: A secção de Discussão é reservada para
justificar as opções realizadas nos métodos e para dissertar sobre os
resultados apresentados anteriormente, fazendo onde necessário ligações à
literatura. A conservação do mesmo esquema narrativo usado nas duas secções
anteriores (métodos e resultados) permite a continuidade; pode porém optar-se
por não o fazer explicitamente. Isto é, apesar de no texto da Discussão dever
seguir-se a mesma ordem de temas das secções anteriores, podem não ser criadas
subsecções próprias.
Note-se que na secção de Resultados já deverão ter sido feitos comentários
breves sublinhando os aspetos mais importantes dos resultados apresentados. Na
discussão procuramos enfatizar os pontos que nos parecem mais relevantes.
Assim, o tamanho do texto (p.e., em número de palavras) que dedicamos a um dado
assunto pode ser encarado como uma medida prática da importância que damos ao
mesmo. Um dos erros que estamos acostumados a observar em textos de alunos é o
desequilíbrio na discussão das matérias dando-se por vezes relevo a temas sem
importância para o trabalho. A técnica de repetição dos mesmos elementos que
foram destacados na secção de Resultados é eficaz porque permite enfatizar temas.
Não obstante, tem também perigos já que a atenção do leitor tanto se foca no
que é dito como no que, sendo expectável que o fosse, não é.
Por exemplo, o elemento que destacámos nos resultados foi o volume e perfil
de negócios que as duas imobiliárias apresentaram. Assim, a discussão sobre
este ponto quase que se impõe e o leitor espera alguma explicação. Se voltarmos
apenas a afirmar que a imobiliária Y teve um melhor desempenho do que a X, a
atenção do leitor foca-se na falta de explicação. Falta explicar o porquê. De
facto, nada dizemos sobre as dimensões das empresas, os seus custos de
funcionamento, etc. O objetivo da Discussão é avançar explicações para os
resultados que livremente escolhemos mostrar. No caso de um trabalho científico
as explicações poderão muitas vezes vir de publicações de outros autores, que
deverão ser então referenciadas.
No caso da Eq. 1 é possível notar que é uma aproximação e que, portanto,
apenas podemos ter uma estimativa do volume de vendas. As conclusões feitas com
base nesta equação carecem de ponderação.
Conclusão: A secção de conclusões é muitas vezes
omitida por ser aglutinada na secção de Discussão. No entanto, a sua inclusão
pode ser uma mais valia, na medida em que traduz a avaliação que os autores
fazem sobre o trabalho realizado. Serve também para os comentários finais e
para sublinhar as ideias fundamentais do relatório.
A presente comunicação apresenta uma série de linhas orientadoras para a
realização de textos académicos com qualidade. Contudo, estas linhas não devem
ser encaradas de forma ortodoxa. São regras práticas que devem ser seguidas com
prudência e adaptadas caso-a-caso. Existem outras vias que permitem o mesmo
resultado e, noutros contextos, é preferível a adoção de outros estilos. Ainda
assim, podemos destacar algumas ideias base:
- o objetivo de um relatório ou texto científico é otimizar a transmissão de informação, logo todas as estratégias que permitam cumprir este fim devem ser tidas em conta;
- o texto deve ser coerente, com frases bem construídas e claras;
- espera-se capacidade de resumo - textos longos são maçadores;
- o aspeto gráfico conta - textos descuidados e desorganizados minam a transmissão de informação;
- a existência de referências denota cuidado na contextualização;
Escrever um relatório ou artigo científico é um exercício de equilíbrios
que se melhora com exigência e cuidado.
Bibliografia:
[1] Geoffrey A. Moore. Crossing
the chasm: marketing and selling high-tech products to mainstream customers.
HarperBusiness, New York, NY, 1991.
Na próxima edição do Perguntas Frequentes em Bioestatística: “Como
e porquê testar a normalidade dos dados?”