A seguinte mensagem é a segunda comunicação da série Perguntas
Frequentes em Bioestatística, da autoria de membros do Laboratório de
Bioestatística e Informática Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra. Pretende-se fomentar uma discussão sobre as melhores práticas
estatísticas na área da saúde.
Perguntas frequentes em
bioestatística #2. Qual é
a população no meu estudo? E a amostra?
Francisco Caramelo e Miguel Patrício
O desenho de um estudo pode ser encarado como a definição de um conjunto de
fatores. Tendo como ponto de partida uma questão de investigação bem formulada,
deverão tornar-se claros, entre outros, aspectos como qual é a população a ser
estudada, como deve ser escolhida a amostra ou qual a “main outcome measure” (variável
principal) a medir ou observar. Relembramos que na comunicação anterior havíamos focado a questão “Que dados se deverá recolher para fazer uma análise
estatística?”. Pretendemos na presente comunicação discutir a definição de
população e de amostra, bem como a relação entre as duas.
Os itens da lista de elementos a definir na fase de desenho do estudo não
são independentes entre si, existindo conexões que devem ser tidas em conta. Em
particular, a definição da variável principal é crucial para o cálculo do
tamanho da amostra. Por outro lado, a definição da população restringe a
amostra. Pode-se pensar em população como sendo o grupo de pessoas – ou animais
ou outros objectos, consoante o estudo - para o qual quereremos aplicar as
conclusões do nosso estudo e para o qual pensamos virem estas a ser válidas. Nem
todos os elementos da população estarão necessariamente disponíveis para
participar no estudo, sendo a sua disponibilidade afectada por diversos factores
- geográficos, éticos ou outros. Assim, é usual distinguir-se população alvo de
população acessível, sendo esta última um subconjunto da primeira, para a qual por
sua vez quereremos tirar conclusões. Como exemplo de uma população alvo podemos
considerar os consumidores habituais de café residentes em Portugal e como
população acessível os clientes de uma cadeia de estabelecimentos de
restauração que colabora no estudo.
Para além de população alvo e população acessível, deverá ainda definir-se
o conceito de amostra. Nem todas as pessoas pertencentes à população acessível participarão
no estudo. Designa-se este último subgrupo que participa no estudo como a
amostra. Assume-se então que as conclusões que se venham a tirar no estudo a
partir da amostra deverão ser válidas para a população alvo. A validade deste
processo carece de alguns requisitos e alguns cuidados que devem ser tidos em
conta. Desde logo a forma como é escolhida a amostra tem um papel de grande
relevância. É também nesta fase que devem ser definidos os critérios de
inclusão e exclusão, os quais devem ser norteados pela representatividade da
amostra. Ou seja, pela capacidade das conclusões retiradas serem válidas para a
população definida.
FAQ:
1-
Como
escolher a amostra?
Existem várias técnicas de amostragem sendo genericamente divididas em
métodos probabilísticos e não probabilísticos. Um método probabilístico é tal
que cada um dos seus sujeitos apresenta uma probabilidade finita não nula de
ser escolhido e esta probabilidade é determinável. Este método produz amostras
não enviesadas que representam os traços presentes na população. Já um método
não probabilístico é tal que existem elementos com probabilidade nula de serem
escolhidos. Assim, neste caso são produzidos vieses de exclusão colocando
balizas nas extrapolações que se podem fazer a partir da amostra.
2-
Quão
grande deve ser a amostra?
A dimensão da amostra é determinada para a questão principal e partindo do
conhecimento de alguns parâmetros que dependem da natureza da questão, mas que
geralmente envolvem o tamanho do efeito e a dispersão nas medidas. Este valor é
calculado caso a caso usando expressões estabelecidas. Por facilidade, é usual
recorrer a programas computacionais.
Na próxima edição do Perguntas Frequentes em Bioestatística: “Como
estruturar os dados para análise estatística?”
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